quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A projeção da sombra

Há vezes que reagimos de forma desproporcionada ou exagerada ante situações ou pessoas e depois nos arrependemos. Então dizemos: “sento-o, não sei que me passou”. Estamos tão acostumados a mostrar-nos através da máscara do ego que quando nossa sombra se manifesta nos surpreende inclusive a nós mesmos.


Carl Gustav Jung (1875-1961) psicólogo e médico psiquiatra suíço, dedicou toda sua carreira ao estudo da psique humana. Ao longo de seus numerosos ensaios foi desenvolvendo primeiro, seu “Psicologia Analítica” e, mais tarde, o que denominou “Psicologia Complexa”. Jung fala da psique e não da mente, porque, segundo ele, a psique abarca todos os processos da mente, os conscientes e os inconscientes.

Entre muitas de suas contribuições desenvolveu o conceito de Arquetipo. Por definição, um arquetipo é um modelo original e primário de qualquer coisa. Pode tratar-se de algo real ou simbólico que sempre é capaz de gerar algo mais a partir de si mesmo. Tomando esta ideia como ponto de partida, Jung explicou a construção do inconsciente coletivo “como o conjunto de símbolos primitivos compartilhados por pessoas de todos os lugares e todas as épocas que expressam elementos da psique que excedem ao campo da razão”. Por conseguinte, um arquetipo junguiano está composto por fantasías e representações oníricas que estão relacionadas com lendas, mitos e conceitos religiosos que configuram as experiências dos indivíduos.

Para Jung, a psique tem três estratos: consciência, inconsciente pessoal e inconsciente coletivo dos que não pode se conhecer sua natureza, sina só seus efeitos. O inconsciente luta por mostrar-se, mas é reprimido constantemente pelo ego. O que há no inconsciente não é necessariamente mau, no entanto ao o considerar mau, o reprimimos.

Jung define o arquetipo sombra como o aspecto inconsciente da personalidade caracterizado por rasgos e atitudes que o Eu Consciente não reconhece como próprios. Se por definição a sombra é inconsciente quer dizer que estamos submetidos a ela. A sombra está formada por energia psíquica reprimida que se projecta no exterior. Quando nos sentimos atacados, quando nos molesta algo de alguém estamos a ver a projeção de nossa própria sombra. Há muitas formas de alimentar a sombra, a mais usual é a que conhecemos como “lutar para ser bom”. Por isso Jung dizia “Prefiro ser um indivíduo completo que uma pessoa boa”.

Podemos dizer também que temos crenças-sombra que são as que controlam nossos pensamentos, nossas palavras e nossos comportamentos. A cada experiência da vida é uma oportunidade de eleger de novo, uma oportunidade de emendar velhos erros que nos permite crescer, experimentar e nos desenvolver. Neste sentido, Jung diz-nos: “as crises são magníficas oportunidades para familiarizar com a sombra”.

Todos temos uma dupla história, a que mostrámos e com a que nos identificamos e a que ocultamos e à que recusamos. Em Bioneuroemoción, àquilo que recusamos o chamamos a história por trás da história. É justamente esta história oculta a que nos faz repetir situações, dramas e padrões que não nos beneficiam uma e outra vez. Durante um acompanhamento guia-se ao consultante a dar-se conta de que projecta sua sombra no espelho da pessoa ou situação que tem enfrente. Sabemos que todo o que seja excessivo é uma mostra e uma projeção da sombra.

No livro El Observador en Bioneuroemoción, Enric Corbera propõe-nos diferentes métodos para aprender da sombra: solicitar feedback do casal, filhos e amigos autênticos; analisar nossas próprias projeções, fazendo uma lista daquilo que nos desagrada do outro para assumir que faz parte de nós; examinar nossos lapsus pois, justamente os lapsus, manifestam aquilo que queremos ser e não nos atrevemos; comprovar se fazemos sentido do humor, se queremos controlar em todo momento, ficar bem com todo mundo e nos divertimos pouco, temos a nossa sombra com as mãos atadas; e, finalmente, estar atentos a nossas fantasías e sonhos, como quando nos encontramos pensando em coisas estranhas e, em princípio, contrárias a nossa opinião.

Quando aceitamos a sombra, todo se equilibra.